Alega-se nas redes sociais que a ingestão de chá de equinácea  (uma planta de origem norte-americana) irá “fortalecer a imunidade e proteger de doenças”. 

Numa publicação do Facebook, defende-se que “existem estudos que recomendam o uso de equinácea no tratamento de cancro”, uma vez que esta erva medicinal “estimula o sistema imunológico”.

Refere-se também no mesmo post que o chá de equinácea ajuda com “problemas respiratórios das vias superiores”, “combate infeções”, sendo “indicado para períodos de stress contínuo” e em situações de “baixa imunidade após o uso de antibióticos”.

Mas existe evidência científica que prove que o chá de equinácea fortalece o sistema imunitário? Esta infusão defende o organismo de várias doenças?

É verdade que beber chá de equinácea fortalece o sistema imunitário?

Apesar de a ciência confirmar que um regime alimentar saudável e equilibrado pode potenciar o funcionamento do sistema imunitário, não existem evidências de que um chá, por si só, tenha esse efeito.

Em declarações ao Viral, Margarida Saraiva, líder do grupo de investigação sobre regulação imune no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) da Universidade do Porto e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Imunologia, explica que a “evidência científica de que um determinado alimento ou chá pode ter efeito nas células imunes não está estabelecida”.

No mesmo sentido, a nutricionista Lilibeth Teixeira assinala que “nenhum alimento, infusão ou suplemento, de maneira isolada, tem a capacidade de melhorar o sistema imunitário”.

Em relação ao chá de equinácea, em particular, a nutricionista sublinha que os artigos existentes sobre o tema “parecem ser pouco claros e pouco conclusivos”. 

“Os estudos que parecem mostrar poder existir esta associação falham na qualidade, quer pela inexistência de grupos de controlo, quer pelas doses utilizadas ou pela extrapolação dos resultados in vitro para o ser humano, sem ter em consideração outras variáveis que poderão influenciar o sistema imunitário”, explica a nutricionista.

Um artigo de revisão publicado em 2003 na Herbal Immunostimulants analisou os efeitos de três plantas medicinais – entre as quais a equinácea – no sistema imunológico e destacou também as limitações dos estudos existentes à data.

“Muitos dos ensaios clínicos têm limitações que deixam algumas dúvidas sobre as descobertas, não sendo certo como os efeitos imunológicos reportados nos estudos pré-clínicos e em humanos se relacionam com os efeitos nas infeções respiratórias superiores”, lê-se nesse trabalho.

Os investigadores admitem o potencial valor da equinácea e das outras ervas no reforço imunológico, mas sublinham a necessidade de mais estudos sobre o assunto.

A alegação de que o chá de equinácea potencia o funcionamento do sistema imunitário pode estar associada à tradicional utilização desta planta para prevenir e acelerar a recuperação em casos de resfriados comuns.

No entanto, também nesta questão “os estudos são ambíguos”, reforça Lilibeth Teixeira: “Se, por um lado, existem estudos que mostram e sugerem uma rapidez na recuperação, por outro, existem estudos que não mostram qualquer benefício.”

Além disso, os estudos realizados utilizam, normalmente, extratos da substância ou suplementos, o que significa que a dose da substância ativa é maior do que a encontrada em infusões. Por essa razão, um efeito que tenha sido identificado num estudo feito com extratos pode ser diferente do obtido ao beber uma chávena de chá.

Lilibeth alerta ainda que a utilização de ervas medicinais, como a equinácea, “deve ser sempre orientada por um profissional de saúde (médico ou nutricionista), devido às possíveis interações que as plantas poderão ter com medicamentos e diferentes patologias”.

Alimentação saudável pode fortalecer o sistema imunológico

O impacto da alimentação no sistema imunitário é um tema que tem vindo a despertar grande curiosidade entre a comunidade científica.

Margarida Saraiva refere que, nos últimos anos, têm sido realizados mais estudos, mas ressalva que as conclusões focam-se no impacto de “um mineral ou nutriente e não um alimento em si”. 

“Tem havido evidência de que a nossa alimentação tem muitas implicações no organismo e no sistema imunitário”, explica Margarida Saraiva, acrescentando que “sabemos que todas as moléculas podem ter impacto positivo ou negativo na forma como as células funcionam.”

Lilibeth Teixeira lembra que “existem alguns nutrientes específicos que desempenham ações importantes de suporte” do sistema imunitário, nomeadamente os macronutrientes – em particular a proteína que é “fundamental para a produção de anticorpos e outras células do sistema imunitário” – e os micronutrientes – como a vitamina C, D e E e o zinco.

As duas especialistas sublinham a importância de uma alimentação equilibrada como um fator que fortalece o sistema imunológico. 

A imunologista consultada pelo Viral vinca que seguir um regime alimentar saudável vai “oferecer ao organismo uma melhor chance de ter sucesso no combate às doenças”, mas ressalva que, “se houver uma patologia, o paciente tem de ser seguido por um médico”.

“Não podemos substituir a terapia farmacológica, que é apropriada para as doenças, por alimentos”, afirma.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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